terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Anjos e Soldados - Qual a diferença?






O que vou expor hoje, não é algo que force uma opinião. São somente fatos interligados para que vocês mesmos tirem suas opiniões e as comentem no Ainda Existe uma Luz. Se eu pudesse ser ouvido na minha opinião sobre o mundo, o mundo não seria mais nosso.




Alemanha, 1939

Começa a segunda guerra mundial. Um homem é tirado dos braços de sua esposa para seguir viagem para o front. A morte anda tão rente quanto seu uniforme nazista.

Ele sente saudades de sua esposa, de sua vida, enquanto vê colegas morrendo, por vezes estraçalhados. Sua cabeça está em uma espécie de choque. Pessoas morrem de ambos os lados. Muitas delas.
A guerra está acontecendo, nos céus, na água, e na terra. Para qualquer lado que ele olha há somente fogo, morte e destruição.

Ele já não sabe discernir o que é certo e errado, cumpre suas ordens numa triste tentativa de sobreviver. Mata para não morrer. Aquilo se torna seu mundo. Já não questiona. Está adentrando as terras inimigas por uma honra que lhe foi imposta

Guiados por um homem genialmente louco, ele, junto com outros milhões, seguem adiante um caminho incerto. Generais sádicos seguem as ordens do führer, e as passam para seus tenentes e soldados. Naquele mundo criado, onde qualquer um que não tenha participado não faz a menor idéia do que seja, a honra e a glória são impostas como o troféu. Mata-se e morre-se pela liberdade e pelo patriotismo. Cada lado, aliados e nazistas, interpretam a liberdade de maneiras diferentes, maneiras impostas pelos seus líderes. Ambos errados, ambos matando, ambos seguindo ordens de pessoas com interesses políticos e principalmente econômicos, que sentados atrás de uma mesa, fumando seus charutos e tomando seus licores olham os soldados como números e pequenos blocos posicionados em seus enormes mapas de quartel general.
E aquele soldado nazista, em seus raros momentos de descanso, escreve cartas para sua esposa. Pensa muito nela. Talvez é somente esse pensamento que não o deixa enlouquecer de vez quando pensa nas vidas que tirou, nas famílias que destruiu ao se matar pais e maridos. Sua esposa está grávida e meses depois dá a luz. Ele vê seu filho por uma única vez. Seu filho não o reconhece, uma criança que não faz a menor idéia de quem é aquele homem que logo tem que ir embora de novo. E ele vai, para nunca mais voltar. Morre como herói de guerra. Morre com uma coragem que poucos teriam, e por um motivo que poucos entendem. Mas morre.

Anos depois, esse homem é conhecido somente pelo adjetivo “nazista”. Um adjetivo que significa ser cruel, sádico, injusto, monstruoso e tudo de ruim que se possa imaginar.

Os vencedores daquela guerra entram logo em outra guerra: A do Vietnam. Tão cruéis quanto os nazistas, eles matam, estupram, queimam crianças com suas bombas napalm e também morrem. Morrem aos montes. Morrem tantos que um dia percebem que estão perdendo a guerra. Os soldados que conseguem voltar pra casa, perturbados e quase loucos pelo  horror que passaram, são escorraçados pelos seus conterrâneos como monstros.  Mas ainda sim continuam chamando os nazistas de cruéis.

E há também os brasileiros. Eles moram num país pacífico, não têm patriotismo e ainda não se acham cruéis ou monstruosos e se dão ao direito de chamar nazistas e americanos de imperialistas cruéis e monstruosos pelas guerras que fizeram. Chamam também os fanáticos muçulmanos de monstros-cegos e os chineses de comunistas ditadores que censuram a liberdade. Mas o Brasil é um país onde sua maioria é desonesta, mesmo nas pequenas coisas como na conta de um restaurante. É um país onde mata-se para roubar um tênis. Um país onde se arrastam crianças puxadas por um carro por quilômetros e onde as drogas e a violência matam mais do que na guerra do Iraque e de Israel, e a impunidade é o estímulo para que o crime cresça mais e mais.

Mas o Brasil também foi um país de guerra onde há não muito tempo atrás acabou com as esperanças de um país vizinho. Um Paraguai muito diferente do que é hoje. Um Paraguai em crescente desenvolvimento econômico. Um Paraguai onde se havia erradicado o analfabetismo, mas que depois de perder a guerra, se tornara um dos mais pobres países da América do Sul.

Os brasileiros, então, foram vistos como  monstros e cruéis. Os paraguaios os viram assim. Mas se esqueceram que eles, os paraguaios, eram espanhóis. Espanhóis que pouco tempo antes haviam massacrado os Incas, matando, oprimindo e escravizando uma sociedade que se evoluía cada vez mais.

Na história então, os espanhóis se tornaram cruéis. Muitos tomaram o lado dos pobres Incas, que praticamente indefesos contra as forças espanholas padeceram para sempre com sua cultura e tradição. Mas os Incas só se tornaram um grande império depois de invadir, massacrar e render todas as tribos e populações vizinhas. Ou os vizinhos se rendiam e eram bem tratados, ou eram cruelmente exterminados.
E essas tribos? Como surgiram? Guerrearam, com certeza. Assim como qualquer história de qualquer nação. Todos nós crescemos através da crueldade e da guerra. Somos frutos de muito sangue e monstruosidade. Por isso, antes de chamar algum país, cultura ou tradição de cruel, generalizando todos os que participaram das guerras, olhe para sua própria história. Independente de que país você seja. Não tente julgar algo que você não tem a menor idéia do que seja. Ao invés disso, lute pela paz e respeite as diferenças para que no futuro não sejamos vistos como cruéis e monstruosos primatas.

Durante toda nossa história que pôde ser registrada, mais de 300 milhões de pessoas morreram nas guerras. As guerras definiram de forma violenta o desenrolar de toda a sociedade. Mas dentro de todo horror e covardia, pudemos ver momentos emocionantes de paz e de irmandade, como o que aconteceu em um natal da primeira guerra mundial.

O ser humano não nasceu para se odiar, ele simplesmente é condicionado à isso.
Mas há algo de bom na guerra. Nela podemos ver o homem com toda sua coragem e honra lutando por um ideal, uma causa que ele julga ser justa e grandiosa. Vemos homens que mesmo com morte andando ao seu lado a cada segundo, continuam lutando para atingir seu objetivo.
E isso é bom, porque prova que o homem é capaz. E se um dia a causa, o ideal, for de um mundo justo e sem desigualdades. Um mundo onde ser humano e natureza são um só e a paz, junto com o amor e a irmandade forem o objetivo, provavelmente essa será a última luta do homem.

Não há paz sem guerra
È preciso morrer para querer a vida
Necessita, sim, o homem do mal
Para o bem buscar
o ódio deve ser lançado sobre a humanidade
Para que o amor valha mais
do que um simples beijo
A justiça, ainda não experimentada
Será a locomotiva de todos corações
E se desejo-lhe todo o mal,
Saiba que é pelo seu bem
Ou dos seus filhos
Pois nossos pais não entenderam
E se nós também vivermos mesquinhamente
Serão nossos filhos os herdeiros da maldição
De não saber ser humano
De compreender e amar nossa natureza
E a natureza mãe
De nos vermos irmãos
E num abraço eterno
Vivermos por algo maior.
Por isso, ergam-se soldados
Assolem o mundo e vejam que a honra
Será sua gloriosa vitória contra todo o mal
Pois só o mal existirá
E o amor que restar em seus corações
Será suficiente para entender
Que não há glória sem luta
Mas o segredo de tudo isso
Está em escolher sabiamente
Contra o que lutar

Texto e poema de autoria de Christian Gurtner 
Essa é a transcrição do podcast No34 – Anjos e Soldados – Não é recomendado ler sem antes ter ouvido. Para ouvir o podcast No34, Clique Aqui 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...