terça-feira, 30 de maio de 2017

O Primeiro Grande Mandamento


Temos uma vida de dedicado discipulado para demonstrar nosso amor pelo Senhor.







Quase não há na História um grupo de quem eu sinta mais pena do que os 11 apóstolos remanescentes, imediatamente após a morte do Salvador do mundo. Acho que às vezes nos esquecemos quão inexperientes eles ainda eram e quão totalmente dependentes de Jesus tinham sido. Ele lhes disse: “Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido (…)?”.1
Mas, é claro que para eles, Jesus não tinha ficado com eles o tempo suficiente. Três anos não é muito tempo para se chamar todo um Quórum de Doze Apóstolos dentre uns poucos recém-conversos, eliminar do meio deles os erros dos antigos caminhos, ensinar-lhes as maravilhas do evangelho de Jesus Cristo e deixá-los sozinhos para levar a obra adiante até que eles também fossem mortos. Era um panorama bem assustador para um grupo de élderes recém-ordenados.
Especialmente a parte referente a serem deixados sozinhos. Por várias vezes, Jesus tentou dizer-lhes que Ele não ia permanecer fisicamente presente com eles, mas ou não conseguiam ou não queriam compreender algo tão angustiante. Marcos escreveu:
“Ensinava os seus discípulos, e lhes dizia: O Filho do homem será entregue nas mãos dos homens, e matá-lo-ão; e, morto ele, ressuscitará ao terceiro dia.
Mas eles não entendiam esta palavra, e receavam interrogá-lo”.
Então, após um período de tempo muito curto para aprenderem e menos ainda para se prepararem, aconteceu o inimaginável, o inacreditável se tornou realidade. Seu Senhor e Mestre, seu Conselheiro e Rei foi crucificado. Seu ministério mortal chegou ao fim e a pequena Igreja em dificuldades que Ele havia estabelecido parecia fadada ao escárnio e à extinção. Seus apóstolos realmente O testemunharam em Seu estado ressuscitado, mas isso apenas os deixou ainda mais aturdidos. Sem dúvida, eles devem ter-se perguntado: “O que faremos agora?” Para ter resposta, voltaram-se para Pedro, o apóstolo sênior.
Peço agora que me permitam tomar algumas liberdades que não se acham nas escrituras, ao retratar essa conversa. Em suma, Pedro disse a seus companheiros: “Irmãos, estes foram três anos gloriosos. Nenhum de nós teria imaginado, há bem poucos meses, todos os milagres que vimos e toda a divindade que desfrutamos. Conversamos, oramos e trabalhamos com o próprio Filho de Deus. Andamos com Ele, choramos com Ele e, na noite daquele terrível desfecho, ninguém chorou mais amargamente do que eu. Mas isso passou. Ele terminou Sua obra e ressuscitou. Operou Sua salvação e a nossa. E então, vocês perguntam: ‘O que faremos agora?’ Não sei mais o que lhes dizer a não ser que voltemos a nossa antiga vida, com regozijo. Pretendo ‘ir pescar’”. E ao menos seis dos dez outros apóstolos restantes concordaram, dizendo: “Também nós vamos contigo”. João, que era um deles, escreveu: “Foram, e subiram logo para o barco”.
Mas infelizmente a pescaria não foi muito boa. Na primeira noite em que voltaram para o mar, não pescaram nada, nem um único peixe. Com o despontar dos primeiros raios de sol, voltaram desapontados para a praia, onde viram à distância uma pessoa que os chamou: “Filhos, tendes alguma coisa de comer?” Melancolicamente, os apóstolos que voltaram a ser pescadores deram a resposta que nenhum pescador quer dar. “Não pescamos nada”, murmuraram, e para piorar as coisas, foram chamados de “filhos”, como se fossem crianças.4
“Lançai a rede para o lado direito do barco, e achareis”,5 gritou o desconhecido — e aquelas simples palavras fizeram com que começassem a reconhecer quem era Ele. Apenas três anos antes, aqueles mesmos homens estavam pescando naquele mesmo mar. Naquela ocasião, também tinham “trabalhado toda a noite, nada [apanhando]”, como narram as escrituras. Mas outro galileu na praia havia gritado para que lançassem as redes, e eles “colheram uma grande quantidade de peixes”,7 o suficiente para arrebentar suas redes, enchendo dois barcos que ficaram tão pesados a ponto de começarem a afundar.
O mesmo estava acontecendo novamente. Aqueles “filhos”, como foram justamente chamados, apressadamente lançaram sua rede, e “já não a podiam tirar, pela multidão dos peixes”. João disse o óbvio: “É o Senhor”. E o impetuoso Pedro pulou da borda do barco no mar.
Depois de um alegre reencontro com Jesus ressuscitado, Pedro teve uma conversa com o Salvador, que eu considero o ponto decisivo e crucial do ministério apostólico em geral, e sem dúvida em termos pessoais para Pedro, conduzindo aquele homem firme como uma rocha a uma vida magnífica de serviço e liderança. Olhando para seus pequenos barcos desgastados pelo uso, para suas redes esgarçadas e para uma incrível pilha de 153 peixes, Jesus disse a Seu apóstolo sênior: “Pedro, amas-me mais do que amas tudo isso?” Pedro respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo”.
O Salvador respondeu, mas continuou a fitar Seu discípulo nos olhos e disse novamente: “Pedro, tu me amas?” Sem dúvida, um pouco confuso pela repetição da pergunta, o grande pescador respondeu pela segunda vez: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo”.
O Salvador novamente deu uma breve resposta, mas com implacável rigor, perguntou pela terceira vez: “Pedro, tu me amas?” A essa altura, Pedro se sentia realmente desconfortável. Talvez houvesse em seu coração a lembrança do que ocorrera poucos dias antes, quando por três vezes lhe fizeram outra pergunta, à qual ele havia respondido de modo igualmente enfático, porém na negativa. Ou talvez ele tivesse começado a se perguntar se havia compreendido mal a pergunta do Mestre dos mestres. Ou talvez estivesse examinando seu coração, em busca da sincera confirmação da resposta que dera tão prontamente, de modo quase automático. Sejam quais tenham sido seus sentimentos, Pedro disse pela terceira vez: “Senhor, (…) tu sabes que eu te amo”.
Ao que Jesus respondeu (e novamente reconheço a liberdade que tomo) talvez dizendo algo assim: “Pedro, então por que você está aqui? Por que voltou a esta mesma praia, junto às mesmas redes, tendo essa mesma conversa? Não era óbvio naquela época e não é óbvio agora que se eu quiser peixe, posso conseguir peixes? Do que eu realmente preciso, Pedro, são discípulos, e preciso deles para sempre. Preciso de alguém para apascentar minhas ovelhas e para salvar meus cordeiros. Preciso de alguém para pregar meu evangelho e defender minha fé. Preciso de alguém que me ame, de verdade, e que ame o que nosso Pai Celestial me comissionou a fazer. Nossa mensagem não é frágil e a tarefa não é fugaz. Não é desafortunada nem irrealizável, nem será relegada às cinzas da história. É a obra do Deus Todo-Poderoso, e deve mudar o mundo. Portanto, pela segunda e presumivelmente pela última vez, Pedro, estou lhe pedindo que deixe tudo isso, para ensinar e testificar, para trabalhar e servir lealmente até o dia em que eles farão com você exatamente o que fizeram comigo”.
Depois, voltando-se para todos os apóstolos, Ele pode muito bem ter dito algo como: “Será que vocês foram tão tolos quanto os escribas, os fariseus, quanto Herodes e Pilatos? Acharam, tal como eles, que esta obra poderia ser destruída simplesmente me matando? Acharam, tal como eles, que a cruz e os cravos e a sepultura foram o fim de tudo, e que cada um poderia alegremente voltar a fazer o que fazia antes? Filhos, será que minha vida e meu amor não lhes tocaram o coração mais profundamente do que isso?”
Amados irmãos e irmãs, não sei exatamente como será nossa experiência no Dia do Juízo, mas ficarei muito surpreso se em algum ponto da conversa, Deus não nos fizer exatamente a mesma pergunta que Cristo dirigiu a Pedro: “Você me amou?” Creio que Ele desejará saber se em nossa própria escolha muito humana, muito inadequada e às vezes infantil das coisas, ao menos compreendemos um mandamento, o primeiro e grande mandamento de todos: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento”. E se naquele momento pudermos dizer, gaguejantes: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo”; então talvez Ele nos lembre que a principal característica do amor sempre foi a lealdade.
“Se me amais, guardai os meus mandamentos”, disse Jesus. Portanto, temos vizinhos para abençoar, filhos para proteger, pobres para erguer e a verdade para defender. Temos coisas erradas para corrigir, verdades para compartilhar e coisas boas para fazer. Em resumo, temos uma vida de dedicado discipulado para demonstrar nosso amor pelo Senhor. Não podemos desistir nem recuar. Depois de um encontro com o Filho vivo do Deus vivo, nada jamais será como foi antes. A Crucificação, a Expiação e a Ressurreição de Jesus Cristo assinalam o início da vida cristã, não o seu fim. Foi essa verdade, essa realidade, que permitiu que um punhado de pescadores galileus que voltaram a ser apóstolos, sem uma só sinagoga ou uma única espada, deixasse suas redes uma segunda vez e partisse para moldar a história do mundo no qual agora vivemos.
Testifico do fundo do coração, com a intensidade de minha alma, a todos os que podem ouvir-me que essas chaves apostólicas foram restauradas na Terra e se encontram em A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Para aqueles que ainda não se uniram a nós nesta grande e final causa de Cristo, dizemos: “Por favor, venham”. Para aqueles que já estiveram conosco mas recuaram, preferindo escolher e pegar apenas alguns aperitivos culturais do bufê da Restauração, deixando de lado o resto do banquete, digo que temo que terão pela frente muitas noites longas e redes vazias. O chamado é para que voltemos, permaneçamos fiéis, amemos a Deus e estendamos a mão para ajudar. Incluo nessa conclamação permanente de fidelidade todo ex-missionário que já esteve dentro de uma pia batismal com o braço erguido em ângulo reto, dizendo: “Tendo sido comissionado por Jesus Cristo”. Você foi comissionado para mudar o seu converso para sempre, mas isso devia certamente ter mudado você também para sempre. Para os jovens da Igreja que aguardam a missão, o templo e o casamento, dizemos: “Amem a Deus e permaneçam limpos do sangue e dos pecados desta geração. Vocês têm um trabalho monumental para fazer, salientado pelo maravilhoso anúncio feito ontem de manhã pelo Presidente Thomas S. Monson. “O Pai Celestial espera seu amor e sua lealdade em todas as fases da vida.”
Para todos os que me ouvem, a voz de Cristo ressoa ao longo das eras perguntando a cada um de nós enquanto ainda há tempo: “Tu me amas?” E por todos nós, respondo com minha honra e minha alma: “Sim, Senhor, nós te amamos”. E tendo posto a “mão no arado”, jamais olharemos para trás até que este trabalho esteja terminado e o amor a Deus e ao próximo governe o mundo. Em nome de Jesus Cristo. Amém.

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