segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

- Estou. Mas tenho outro nome. Têm de aprender a conhecer-me por esse nome, para que, conhecendo-me um pouco, venham a conhecer-me melhor.

      
Quando o sol nasceu, desvaneceu-se a visão das montanhas. As crianças saíram do bote e
começaram a patinhar para o sul, com a parede de água à esquerda. Não sabiam por que fizeram assim; era o destino. Apesar de a bordo do Peregrino se sentirem muito crescidos, agora
tinham a sensação contrária e davam-se as mãos entre os lírios.


      Nunca se sentiram tão cansados. A água estava morna e era cada vez menos funda. Por fim, caminhavam na areia e depois na relva, por uma extensa planície de relva rasteira e bela, que se estendia em todas as direções, quase no mesmo nível do Mar de Prata. Como sempre acontece em uma planura sem árvores, parecia que o céu se juntava com a relva, lá longe. Quando avançaram mais, tiveram a estranha sensação de que, pelo menos ali, o céu descia de fato e unia-se à terra em uma parede muito azul, muito brilhante, mas real e concreta, parecendo vidro. Depois tiveram a certeza total. Estavam agora muito perto. Entre eles e a base do céu havia algo tão branco que, até mesmo com seus olhos de águia, dificilmente poderiam fitar.
Continuaram e viram que era um cordeiro.

      - Venham almoçar - disse o Cordeiro na sua voz doce e meiga.

      Notaram que ardia sobre a relva uma fogueira, na qual se fritava peixe. Sentaram-se e comeram, sentindo fome pela primeira vez desde muitos dias. E aquela comida era a melhor de todas as que haviam provado.

      - Por favor, Cordeiro - disse Lúcia, é este o caminho para o país de Aslam?

      - Para vocês, não - respondeu o Cordeiro.

      - Para vocês, o caminho de Aslam está no seu próprio mundo.

      - No nosso mundo também há uma entrada para o país de Aslam? - perguntou Edmundo.

      - Em todos os mundos há um caminho para o meu país. - falou o Cordeiro. E, enquanto ele falava, sua brancura de neve transformou-se em ouro quente, modificando-se também sua forma.E ali estava o próprio Aslam, erguendo-se acima  deles e irradiando luz de sua juba.

      -  Aslam! - exclamou Lúcia. - Ensine para nós como poderemos entrar no seu país partindo
do nosso mundo.

      - Irei ensinando pouco a pouco. Não direi se é longe ou perto. Só direi que fica do lado de lá de um rio. Mas nada temam, pois sou eu o grande Construtor da Ponte. Venham. Vou abrir uma porta no céu para enviá-los ao mundo de vocês.

      - Por favor, Aslam - disse Lúcia -, antes de partirmos, pode dizer-nos quando voltaremos a Nárnia? Por favor, gostaria que não demorasse...

       - Minha querida - respondeu Aslam muito docemente, você e seu irmão não voltarão mais a Nárnia.

      - Aslam! - exclamaram ambos,entristecidos.

      - Já são muito crescidos. Têm de chegar mais perto do próprio mundo em que vivem.

      - Nosso mundo é Nárnia - soluçou Lúcia. Como poderemos viver sem vê-lo?

      - Você há de encontrar-me, querida - disse Aslam.

      - Está também em nosso mundo? - perguntou Edmundo.

      - Estou. Mas tenho outro nome. Têm de aprender a conhecer-me por esse nome. Foi por isso que os levei a Nárnia, para que, conhecendo-me um pouco, venham a conhecer-me melhor.

      - E Eustáquio voltará lá? - indagou Lúcia.

      - Criança! - disse Aslam. - Para que deseja saber mais? Venha, vou abrir a porta no céu.

      No mesmo instante, abriu-se uma fenda na parede azul, como se uma cortina fosse rasgada, e
uma luz impressionante brotou do lado de lá do céu, e sentiram a juba e um beijo de Aslam na
testa. E encontraram-se no quarto dos fundos da casa da tia Alberta...

Um comentário:

  1. As cronicas de Narnia um dos melhores livros que já li.....bela reflexão Marcos Ramon!!!!

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